Sexta, 12 de Junho de 2009
Analisar questões socioambientais associados ao plano de expansão do Porto de São Sebastião através da criação de uma infra-estrutura portuária adequada foi tema de debate realizado pelo CEDS (Centro de Experimentação em Desenvolvimento Sustentável do Litoral Norte), que teve como representantes o diretor da Companhia Docas de São Sebastião, Frederico Bussinger, o advogado ambientalista, Eduardo Hipólito do Rego, e o assessor especial da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e arquiteto, José Pedro de Oliveira Costa.
O evento que aconteceu dia 13 de fevereiro de 2009, na Câmara Municipal de São Sebastião, teve como objetivo divulgar a proposta do Diálogo para a Sustentabilidade, de forma com que as autoridades municipais e estaduais, entidades representativas, estudantes e profissionais de diferentes áreas, se incorporem ao processo de discussão para o crescimento ecônomico e sustentável do Litoral Norte Paulista.
Logo no início do debate, o diretor da Companhia Docas São Sebastião apresentou o Plano Integrado Porto-Cidade que prevê principalmente geração de novos postos de trabalho e qualificação de mão-de-obra, não se limitando apenas a obras de infra-estrutura e equipamentos portuários.
O projeto abrange também melhorias nos acessos à São Sebastião através de criação de novas malhas rodoviárias para transporte de cargas e passageiros, a ampliação da rodovia dos Tamoios (SP 99), e a construção dos contornos das cidades de São Sebastião e Caraguatatuba. Bussinger falou ainda da necessidade de que a análise do EIA/RIMA seja feita de forma integrada nas suas variáveis ambientais, econômicas e sociais e que o plano de desenvolvimento do porto integre o Plano Diretor do município, atualmente em revisão.
Em seguida, Eduardo Hipólito comentou sobre a importância da criação de um órgão regulador na administração do porto que atue nas questões ambientais e sustentáveis, já que segundo ele não existe qualquer possibilidade de avanço ambiental sem considerar as questões econômicas e igualmente o inverso.
Na visão do advogado ambientalista a construção de novos berços e acessos rodoviários na região deve respeitar a atual vocação do porto e o acesso deve ser integralmente subterrâneo, preservando a Mata Atlântica, ainda que fora dos limites do Parque Estadual da Serra do Mar. Ainda de acordo com Hipólito, o movimento ambientalista irá condenar qualquer proposta ao que diz respeito ao aterro do Araçá.
Já o assessor especial da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, José Pedro, questionou a necessidade de uma ampliação no porto. “Quanto mais modesto e verde, melhor. Tem que analisar isso tudo. É necessário analisar quais são os grandes problemas hoje em São Sebastião e quais serão amanhã. As modificações na paisagem têm conseqüências irreversíveis”. De acordo com ele o plano de expansão do porto deve ser discutido amplamente para que não haja consequências desastrosas ao meio ambiente e a população local e para não chegar a este ponto serão fundamentais leis fiscalizadoras e ações de controle ambiental.
O debate teve duração de cinco horas e contou com a presença de cerca de 100 pessoas, incluindo entidades ambientalistas do Litoral Norte Paulista, vereadores de São Sebastião e Ilhabela e moradores da região.
Confira abaixo o posicionamento do público presente no debate sobre o plano de expansão do Porto de São Sebastião:
Roberto Bleier, do Instituto Gondwana
Acredito que as coisas têm que ser discutidas e que o porto tem que ser desenvolvido de maneira sustentável. Roberto levantou a questão da identidade da população local. Qual será custo beneficio em geral da população local, daquilo que temos vocação, necessidades e o que será desenvolvido para que não sejamos prejudicados?
Ana Maria Borges de Olinda, ecopedagoga, da Ong Caeté Ecolazer e membro da Agenda 21
Só com a divulgação da vinda do projeto Mexilhão, vimos nas escolas de Caraguatatuba inúmeras matrículas de crianças transferidas de Campos/ RJ. Não tenham dúvidas que haverá um êxodo de trabalhadores para o litoral com estas obras. E não temos política habitacional. Para onde irão estas pessoas?
Vereador Marcos Tenório (PMDB), presidente da Comissão de Portos na Câmara de São Sebastião
Lembrou a imaturidade de antigamente, de outras reuniões que discutiam questões como essa e a evolução de todos os setores. Os ambientalistas hoje discutem porém não são tão radicais. De acordo com ele, a rodovia tem que sair, um novo acesso tem que existir. “Não podemos atender os turistas como estamos fazendo. A rodovia se faz necessária. Não podemos perder esse momento de ampliação do porto, mas esperamos que seja de forma consciente, respeitando as leis.
Ivaneide, moradora do Topovaradouro - São Sebastião
A preocupação de muita gente no Araçá é se vamos ser retirados de lá. Se vamos ser desapropriados.
Malú Moreira, organizadora do evento “Terra Deusa, a Arte da Vida”, realizado anualmente em Boiçucanga
Sou contra este projeto porque a vocação do nosso município não é portuária, mas sim turística. Infelizmente essa vocação ainda não foi cuidada, olhada e desenvolvida. E esta é uma questão de vocação e identidade. Mesmo com medidas mitigadoras e compensatórias, nós já conhecemos todas as mazelas deste modelo desenvolvimentista que está condenado. Qual é a sustentabilidade que, de fato, está sendo colocada?
Ricardo Fazzini, empresário e ex-Secretário de Turismo de Ilhabela
O turismo é questão muito importante. O porto de São Sebastião é uma ótima alternativa para o desembarque de passageiros dos navios de turismo. Estamos prevendo 110 navios de cruzeiro aqui no Canal no próximo ano, o que significa 50 mil passageiros. E isto gira a economia, o comércio e gera empregos.
Esse site é um registro passivo da memória do Convênio Diálogo para a Sustentabilidade que reuniu Petrobras, ReaLNorte e Universidade Católica de Santos e aconteceu de 2008 a 2012.