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Quanto mais verde, melhor

Sexta, 05 de Outubro de 2012

O Eldorado Business Tower é um imponente edifício de 32 andares que se destaca na paisagem da marginal Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Por estar afastado do conjunto de espigões da avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul da cidade, ele parece não ter concorrentes à altura. E, em certo sentido, não tem mesmo. O empreendimento é o primeiro - e, até o momento, o único - no Brasil que obteve a certificação platina, categoria máxima da Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), o principal selo de construção sustentável do mundo. Ao todo, apenas 44 prédios corporativos no mundo pertencem à categoria platina do selo verde emitido pelo Green Building Council (GBC). A pedido de EXAME, o GBC Brasil fez um ranking dos cinco prédios mais verdes do país. Além do Eldorado Business Tower, completam a lista o Eco Berrini, o Rochaverá Corporate Tower, o WTorre Nações Unidas e o WTorre JK. Todos eles ficam em São Paulo e, com exceção do Eldorado Business Tower, pertencem à categoria ouro, logo abaixo da platina (o Eco Berrini está em processo final de avaliação para ser elevado ao padrão platina). 

Vistos de fora, esses prédios verdes não dão a dimensão exata do que têm de diferente - mas trazem, dentro de si, uma série de características inovadoras. Quando chove, o Eldorado Business Tower - que tem inquilinos como Gerdau, Odebrecht e General Electric - retém 25% da água que iria parar no rio Pinheiros, reduzindo o risco de alagamentos na vizinhança. A água captada pelo prédio é reaproveitada na irrigação dos jardins e nos vasos sanitários. Os elevadores possuem um mecanismo que recupera energia elétrica durante as descidas. Os vidros de alto desempenho permitem a entrada de 75% da luz solar no edifício e, ao mesmo tempo, deixam 72% do calor do lado de fora. Esse material especial representou um custo adicional de 2,5 milhões de reais para a obra, mas permitiu redimensionar o sistema de refrigeração, gerando uma economia de 4,5 milhões de reais na compra do ar-condicionado. 

O Eco Berrini, uma torre de 32 andares, de propriedade do fundo de pensão Previ e alugado para a Telefônica, é mais um prédio que, à primeira vista, se parece com tantos outros edifícios modernos de São Paulo. Mas é uma das primeiras construções na cidade que, desde sua concepção, foi planejada para obter a certificação Leed. Sua fachada é toda envidraçada, o que garante a excelente luminosidade e reduz o consumo de energia. Para evitar a entrada excessiva de calor, a solução foi dividir as janelas que vão do chão ao teto do pavimento em três partes - as janelas superior e inferior, com vidros especiais, retêm mais calor. 

Localizado também na região da marginal Pinheiros, o Rochaverá Corporate Tower, da incorporadora Tishman Speyer, é um dos maiores complexos comerciais de alto padrão de São Paulo. Ocupando um terreno de 34 000 metros quadrados, destaca-se por possuir inúmeras áreas verdes, que tornam o ambiente acessível aos que trabalham ou moram nas imediações. É como uma praça interligando uma estação de trem e os dois shoppings vizinhos. "Essa preocupação de inserção no meio urbano é fundamental para os prédios verdes", diz Marcelo de Andrade Romero, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Um edifício verde precisa ser sustentável desde seus primeiros dias de vida, reduzindo os transtornos na vida da cidade, como a quantidade de poeira, o trânsito intenso de caminhões e o barulho na fase de construção. É preciso considerar também que, uma vez de pé, ele não pode sombrear totalmente um prédio vizinho. Deve usar a maior quantidade possível de material reciclado, como refugo de outras obras, ou que tenham rápida renovação na natureza. A compra de matéria-prima de localidades muito distantes deve ser evitada. Não faz sentido, por exemplo, um empreendimento de São Paulo ou do Rio de Janeiro trazer madeira certificada do Acre, já que essa operação envolve um elevado custo ambiental com o transporte. 

CUSTO E RETORNO 

Para obter a certificação verde, um prédio precisa cumprir vários requisitos: o projeto deve proporcionar eficiência energética, permitir a redução do consumo de água, usar material reciclado, melhorar a qualidade interna do ambiente e apresentar inovações tecnológicas. Com as soluções avançadas que adotam, os edifícios verdes custam até 7% mais do que prédios de alto padrão erguidos sem as mesmas preocupações ambientais. Trata-se de uma conta enganosa. Os prédios sustentáveis também estão se tornando uma exigência no mundo corporativo graças à redução de até 10% nas despesas com manutenção. "O retorno operacional dos edifícios certificados é rápido", diz Marcos Casado, gerente técnico do GBC Brasil. O preço do condomínio, evidentemente, diminui, mas não o do aluguel, que tem uma valorização alta. Segundo o portal Zap, maior banco de dados do mercado imobiliário do país, o preço do aluguel por metro quadrado em um prédio com o selo Leed chega a ser três vezes maior do que o de outros imóveis na mesma região. 

Apesar da locação mais alta, muitas multinacionais buscam espaços nos prédios verdes para seguir o mesmo padrão de sustentabilidade adotado pela matriz no exterior. "No mundo dos negócios, estar num prédio verde é hoje uma preocupação da maioria das grandes companhias", afirma Roberto Aflalo Filho, sócio do escritório paulistano de arquitetura Aflalo & Gasperini, responsável pelos projetos do Eldorado Business Tower e do Eco Berrini. Aflalo Filho lembra que, nos anos 70, essa era uma preocupação no mundo da construção. A regra era erguer o prédio e vendê-lo rapidamente com o maior lucro possível. Nas duas décadas seguintes, os fundos de pensão passaram a investir em imóveis, o que levou ao surgimento de empreendimentos de alta durabilidade e baixo custo de manutenção. Nos anos 2000, novas tecnologias tornaram viáveis conceitos inovadores que custavam a sair das pranchetas. "A construção de um prédio verde é uma decisão econômica que leva em conta o investimento e o retorno. Um prédio que não incorpora essa visão é como um carro beberrão, que só se desvaloriza e acaba não sendo usado", diz Aflalo. 

O valor de um prédio verde vai além do tangível - ele pode ser refletido na imagem das empresas que optam em habitá-lo. "Ao se instalar num edifício assim, uma empresa busca mostrar à sociedade que se preocupa com o meio ambiente", diz Romero, da USP. Pode até ser um passo importante, mas evidentemente não se trata da panaceia dos problemas de sustentabilidade corporativa. Na China está sendo construído o primeiro edifício sustentável com 100% de eficiência energética - produzirá toda a energia que consumir. Ainda em processo de certificação Leed, o Pearl River Tower, na cidade de Guangzhou, é um arranha-céu de 69 andares que prevê a geração de energia por meio de painéis solares e aerogeradores, ventilação em piso elevado e coletores de água da chuva. Entre as empresas que ocuparão o espaço está a China National Tobacco Corporation, uma companhia polêmica por natureza. 

LIDERANÇA AMERICANA 

O Brasil é atualmente o quarto país do mundo com mais prédios corporativos verdes - 46 empreendimentos obtiveram o selo e outros 490 estão em processo de avaliação. Os Estados Unidos são, disparado, líderes nessa área, com 11 385 prédios verdes certificados, seguidos da China, com 210, e dos Emirados Árabes Unidos, com 50. Dos 44 prédios corporativos verdes no mundo com certificação platina, 33 são americanos. No coração de Manhattan, Nova York, fica a sede do Bank of America, cujo arranha-céu de 55 andares é considerado o edifício mais verde do mundo. Por estar ao lado da Times Square, onde há conexão para quatro linhas do metrô, o prédio do Bank of America dispensa garagens para carros. Na parte invisível para a maioria dos frequentadores, há um engenhoso sistema de armazenamento de gelo que supre 25% da necessidade de refrigeração anual do prédio, reduzindo os picos de energia, comuns em certas horas do dia. À noite, quando a maioria dos funcionários já foi embora dos escritórios, a sobra de eletricidade é usada para produzir gelo para o dia seguinte. 

O primeiro prédio verde de Nova York foi o Hearst Tower, sede do grupo de mídia Hearst Corporation. A moderna torre, projetada pelo arquiteto britânico Norman Foster, foi concluída em 2004 e preservou as características do prédio original de três andares, construído em 1928. A torre gasta 26% menos energia do que um prédio convencional, retém 25% da água das chuvas e conseguiu diminuir em 869 toneladas a emissão anual de gases do efeito estufa, o correspondente à retirada de 174 carros das ruas. 

Na Índia fica o único prédio corporativo fora dos Estados Unidos entre os cinco mais verdes do mundo. O Kalpataru Square foi o primeiro projeto na Ásia a obter a certificação Leed. Localizado próximo ao aeroporto de Mumbai, o empreendimento foi erguido para impulsionar o crescimento do distrito de negócios de Andheri. Seu projeto previu a redução de até 61% do escoamento da água de chuva, que é reaproveitada na irrigação dos jardins e nos vasos sanitários. Os indianos acreditam que empreendimentos como o Kalpataru Square podem estimular outras empresas a investir na melhoria de sua sede, ajudando a criar uma nova imagem para o país. 

OS PRÉDIOS MAIS VERDES 

O Brasil tem 46 prédios corporativos com o selo verde Leed. Abaixo, os cinco melhores. Apenas um deles, o Eldorado Business Tower, pertence à categoria máxima, platina 

OS MELHORES DO BRASIL: 

Eldorado Business Tower/São Paulo 

Eco Berrini/São Paulo 

Rochaverá Corporate Tower/São Paulo 

WTorre Nações Unidas/São Paulo 

WTorre JK/São Paulo 

No mundo todo, os Estados Unidos lideram as certificações, com 11 385 prédios corporativos verdes. A seguir, o ranking dos cinco melhores do mundo 

OS MELHORES DO MUNDO: 

Bank of America Tower/Nova York, Estados Unidos 

Banner Bank Building/Boise, Estados Unidos 

1200 Nineteenth Street/Washington, Estados Unidos 

Kalpataru Square/Mumbai, Índia 

1800 Larimer/Denver, Estados Unidos 

Fonte: Green Building Council/ Eduardo Nunomura Especial Exame CEO - 04/2012/Planeta Sustentável














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Esse site é um registro passivo da memória do Convênio Diálogo para a Sustentabilidade que reuniu Petrobras, ReaLNorte e Universidade Católica de Santos e aconteceu de 2008 a 2012.