Terça, 21 de Fevereiro de 2012
Moradores da Ilha dos Búzios, uma das que compõem o arquipélago de Ilhabela, no litoral norte paulista, descobriram no dia 15 de fevereiro de 2012 uma ossada sob uma rocha, indicando que ali ocorreram dois sepultamentos indígenas. No local também foram encontradas oferendas funerárias, como potes de barro, artefatos feitos em pedra polida e grande quantidade de coquinhos usados por essas populações como alimento.
A indicação de que ocorreram os sepultamentos é da arqueóloga Cintia Bendazzoli, do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de Ilhabela (IHGAI). Segundo ela, vários elementos encontrados indicam existência de um grande sítio arqueológico na ilha, onde moram, sobretudo pescadores artesanais. O acesso ao local é possível após viagem de 1h30 de lancha, a partir de Ilhabela.
"Trata-se de um sítio arqueológico indígena pré-colonial localizado dentro de um abrigo sob rocha, que estava na iminência da destruição completa, tendo em vista o volume de interferências", explica Cintia.
Segundo ela, apesar do ótimo estado de preservação dos ossos, intervenções anteriores acabaram descaracterizando a estrutura original dos sepultamentos. "Há vestígios arqueológicos espalhados por toda a área. Pela necessidade emergencial de medidas de preservação, removemos os esqueletos e artefatos para evitar maiores danos", diz a arqueóloga, que coordena o Projeto de Gestão e Diagnóstico do Patrimônio Arqueológico de Ilhabela (Gedai).
As pesquisas científicas realizadas em Ilhabela por meio do projeto têm contribuído para o entendimento dos processos de ocupação do arquipélago nos períodos colonial e pré-colonial. "Infelizmente não é raro encontrarmos locais parcial ou totalmente destruídos por ações interventivas feitas por curiosos ou caçadores de tesouros, que ainda não conseguiram compreender que a maior riqueza de Ilhabela é sua natureza, sua história e seu povo", afirma.
Segundo a arqueóloga, os achados podem revelar a presença de população indígena diferente dos já conhecidos sambaquieiros na Ilha dos Búzios, da qual ainda não se tinha notícia. Ela explicou que o material será periciado em laboratório para descobrir a data da ossada, usando a técnica do carbono 14. Dessa forma, ela pretende identificar a época em que viveram as pessoas dos esqueletos encontrados. "Não se trata de piratas nem de tesouros de piratas de qualquer natureza, mas sim populações indígenas que dominaram a costa antes do descobrimento do Brasil."
Segundo a prefeitura, os sítios arqueológicos são protegidos por ampla legislação e intervenção não autorizada caracteriza crime contra o patrimônio. "Qualquer pessoa que localize achados de natureza histórica ou arqueológica deverá comunicar o instituto ou a Secretaria de Cultura para que se possa realizar vistoria, cadastramento e pesquisas científicas nesses locais", alerta Cintia.
O achado arqueológico foi batizado de Toca da Caveira. Além dele, segundo a arqueóloga, foram cadastrados mais dois sítios durante a etapa, que serão alvo de pesquisas futuras. O cadastramento dos sítios na Ilha dos Búzios deverá continuar neste mês. "Esperamos encontrar mais sítios de igual importância. Junto a essas ações, estão previstos trabalhos de educação patrimonial com a comunidade para evitar que novas interferências nos sítios ocorram, como se viu nesse caso."
Fonte:REGINALDO PUPO, O Estado de S.Paulo
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